Ataques Isquêmicos Transitórios (AIT)
Aqui vai a mesma história de um paciente com 4 desfechos diferentes:
Um homem de 67 anos sente uma brusca diminuição de força da mão D, que ficou um pouco adormecida,”boba”. Movimentou esta mão com a esquerda, esfregou-a e ao final de uns 20 minutos voltou ao normal.
- Ficou por isso e resolver esperar. Mas dois dias depois, o quadro repetiu, mas mais forte, o braço todo ficou sem força, a boca entortou e perdeu a fala.
- Ligou para um médico amigo que o aconselhou aguardar um pouco. Mas dois dias depois, o quadro repetiu, mas mais forte, o braço todo ficou sem força, a boca entortou e perdeu a fala.
- Imediatamente foi a um hospital e atendido disseram estar com pressão alta (180×100), colocaram um remédio debaixo da língua e o liberaram. Mas dois dias depois, o quadro repetiu, mas mais forte, o braço todo ficou sem força, a boca entortou e perdeu a fala.
- Imediatamente foi a um hospital e, mesmo tendo recuperado, foi internado, não abaixaram a pressão, foi medicado e submetido a diversos exames. Descobriu-se então que além de pressão alta, tinha aumento de colesterol, moderado diabetes e havia uma placa de ateromatose ocluindo quase totalmente a artéria carótida esquerda no pescoço. Foi encaminhado para cirurgia, a placa retirada e não houve mais repetições. Além disto, verificou-se que tinha também ateromatose de coronárias mas que podia ser cuidada clinicamente.
Espero que tenha ficado bem claro que sintomas neurológicos transitórios podem ser premonitórios de algum maior, e pior, que está se anunciando e prestes a chegar. É como a angina pectoris ( dor no peito) que precede o infarto do miocárdio.
No caso do paciente acima trata-se do que chamamos ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT), ou “ ameaça de derrame” ou “ pequeno derrame”. É uma doença vascular cerebral, um dos tipos de acidente vascular cerebral (AVC). A causa é uma falha brusca e fugaz na circulação de sangue ( isquemia) em uma área do cérebro que controla o movimento do membro superior e a fala. Chama-se ataque por ser agudo, abrupto e transitório por durar minutos e regredir espontaneamente.
No caso relatado, a placa ateromatosa que estreita a artéria carótida, além de diminuir o fluxo de sangue para o cérebro, pode soltar fragmentos que sobem e obstruem uma artéria de menor calibre dentro do cérebro provocando a isquemia. Como este fragmento pode ser friável, é quase imediatamente dissolvido pela própria pressão do sangue. A restauração da circulação do sangue assim tão breve é capaz de livrar aquela área de danos e reverter os sintomas. Quando ocorre um ataque isquêmico transitório sabe-se que 10% dos pacientes terá repetição nas primeiras horas. Este risco é excessivamente alto para uma situação que pode ser prevenida.
O cérebro tem várias funções que são alojadas em áreas especializadas. De tal modo que se a isquemia ocorrer em uma delas, os sintomas serão diferentes se ocorresse em outro local.
Por isso as manifestações de AVC, transitórios ou definitivos, são variadas. No caso acima a área inicialmente comprometida foi a que controla o movimento do braço (área motora no lobo frontal contralateral, ou seja do lado esquerdo do cérebro); o segundo ataque atingiu também a área vizinha que controla a fala. Se fosse no lobo occipital, a manifestação seria distúrbio da visão; se no lobo parietal seria dormência no lado oposto do corpo.
Esta é a maior dificuldade em explicar quais sintomas são indicativos de AVC ou AIT, mas estatisticamente são mais frequentes:
Fraqueza localizada num braço ou perna ou nos 2 do mesmo lado;
Boca torta para um lado
Alteração da fala ou de sua compreensão
Dormência ou formigamento de um lado do corpo.
Perda súbita da vista de um olho
Alteração aguda da consciência ou confusão mental
O AIT e o AVC são emergências médicas porque os tratamentos disponíveis são mais eficazes se realizados nas primeiras horas do início.
Dr. Sebastião Eurico de Melo-Souza CREMEGO 770 RQE 5216