Demência Vascular
COMPROMETIMENTO COGNITIVO VASCULAR (CCV) compreende várias condições que prejudicam a circulação sanguínea cerebral e contribuem para o declínio cognitivo (ou seja, prejuízo de funções superiores como memória, orientação no tempo e no espaço, funções executivas, linguagem e comportamento).
As doenças vasculares cerebrais são diversas, comprometendo artérias de maior diâmetro ou a microcirculação (arteríolas e capilares).
As alterações cognitivas consequentes a fator vascular podem ser leves (déficit cognitivo leve) ou mais importantes (déficit cognitivo maior ou demência). Este CCV pode ser causado por lesões vasculares isquêmicas (acidente vascular cerebral isquêmico = AVCI) ou hemorrágicas (acidente vascular cerebral hemorrágico = AVCH). Estas lesões (infartos) podem ser pequenas mas situadas em áreas de maior importância (infartos estratégicos), ou podem ser mais de uma (infartos múltiplos) ou muito extensas. Mas também podem ser provocadas por doença de pequenos vasos (DPV), aqueles que constituem a microcirculação cerebral.
Os infartos estratégicos podem ser de pequeno porte (lacunar) ou maiores, situados em diversos locais com funções importantes nas redes integrativas do funcionamento cerebral com um todo. Por exemplo, áreas como o giro angular, o tálamo, o hipocampo, que são estruturas com fundamental participação em circuitos cerebrais ligados às funções cognitivas.
Múltiplos infartos de diferentes tamanhos, concomitantes ou em tempos diferentes, também podem promover comprometimento das funções cognitivas.
Raramente diminuição global do fluxo sanguíneo cerebral (hipoperfusão e anóxia cerebral) como em parada cardíaca, oclusão das artérias carótidas, baixa pressão arterial, com duração prolongada, pode levar a dano cerebral difuso ou localizado e prejudicar a função cerebral.
Estes mecanismos de natureza vascular quase sempre são de instalação aguda, com recaídas episódicas e com alterações ao exame neurológico (sinais focais). A neuro-imagem, tomografia computadorizada e especialmente a ressonância magnética, identificam as lesões vasculares cerebrais.
A doença dos pequenos vasos (DPV) é a patologia das arteríolas e capilares, estruturas não visualizadas nos exames de neuro-imagem, mas que provocam alterações no parênquima cerebral; estas sim aparecem nas imagens e são bem características. São infartos de pequeno diâmetro (lacunares), focos de hiperintensidade na substância branca (HSB) e pequenos focos de hemorragia (microbleeds). Estas lesões mesmo de tamanhos minúsculos são capazes de interromper fibras nervosas que compõe circuitos cerebrais importantes para as funções cognitivas.
Mas na prática médica, estas alterações de imagem muito comuns na ressonância magnética do crânio de pessoas idosas, não costumam promover manifestações clínicas. Talvez a localização e a extensão destas lesões é que sejam os fatores determinantes para o aparecimento de disfunções cognitivas. Há uma tendência a se tornarem mais extensas e confluentes com o passar do tempo e podem envolver extensas áreas da substância branca cerebral.
As doenças vasculares por si só são capazes de gerar déficits cognitivos de diversas intensidades, desde leves (déficit cognitivo leve) até maiores (demência). E como costumam ocorrer em pessoas idosas, podem coincidir e se associar à lesões degenerativas da idade como a doença de Alzheimer, contribuindo para o agravamento da deterioração mental.
Assim, se a maior causa de demência é a doença de Alzheimer, a associação com doença cerebrovascular é a segunda (demência mista), e a terceira é a demência vascular isolada.
Como a doença vascular em geral, e a cerebrovascular em particular, podem ser prevenidas e tratadas com eficácia, quanto mais cedo e melhor cuidadas podem diminuir o impacto da demência na população idosa, contribuindo para a sobrevivência saudável da população geral.