Amnésia Global Transitória (AGT)
AMNÉSIA GLOBAL TRANSITÓRIA (AGT) é uma perda aguda de memória anterógrada, ou seja a pessoa não consegue gravar o que está acontecendo naquele momento. Pode haver também componente retrógrado, esquecendo o que aconteceu um tempo antes, no máximo até um dia antes. Durante o período de AGT o paciente permanece desperto, mantem sua identidade e dados pessoais, reconhece as pessoas, fala normalmente, pode até dirigir, mas repete as mesmas perguntas porque esquece imediatamente.
Este episódio tem uma resolução completa em 4 a 8 horas geralmente, no máximo dura 24 horas. O paciente volta a gravar normalmente e a se lembrar dos fatos retrógrados, mas não se lembrará do que aconteceu durante a AGT, a não ser certos lances breves.
A AGT pode ocorrer durante esforços físicos em que há aumento da pressão dentro do tórax (manobra de Valsalva), em crises de enxaqueca, após choque térmico, com o uso de certos medicamentos, após anestesia ou cirurgias e em momentos de fortes emoções. Uma perda de memória bastante parecida ocorre após traumatismos de crânio leves a moderados, o que caracteriza o quadro de concussão cerebral.
Não se conhece exatamente a causa da AGT embora se considere que haja envolvimento de estruturas cerebrais ligadas à memória, como o hipocampo. Os mecanismos postulados como falha na circulação sanguínea (isquemia cerebral, acidente vascular cerebral), alterações bioquímicas, fenômenos elétricos como descarga epiléptica ou reação alastrante de Leão, não receberam confirmação até o momento.
Apesar de ser transitória, a AGT é uma experiência estressante para a pessoa e seus familiares, que se preocupam com alguma causa grave, com o risco de repetição ou se a memória sofrerá algum dano posterior.
Os exames clínico e neurológico durante a AGT só demonstram a alteração de memória, mas pode apresentar outras alterações se for portador de alguma doença prévia. Se submetido a escalas cognitivas, todos os outros parâmetros estarão normais.
É recomendável que o paciente seja internado e permaneça até a resolução dos sintomas e que complete a investigação necessária que deve ser detalhada e extensa para excluir algum fator causal como ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral, assim como uma avaliação cardiológica básica.
No diagnóstico diferencial entrarão os distúrbios vasculares cerebrais devido ao caráter agudo da AGT. Crises epilépticas podem ter apresentação semelhante mas geralmente são repetitivas e há referências de outras crises anteriores na história. A enxaqueca acompanha-se de seus sintomas característicos e também existem episódios antecedentes.
Exames laboratoriais devem ser incluídos porque sempre há preocupação com infecções e alterações da glicemia. EEG para excluir epilepsia porque existem crises epilépticas que são muito parecidas. A ressonância magnética do crânio é fundamental para excluir doenças vasculares, neoplasias ou outras lesões que podem ser causas de sintomas semelhantes e de epilepsia.
A ressonância magnética de crânio realizada entre 24 e 48 horas do início da AGT pode demonstrar um foco de alteração de sinal na sequência FLAIR e DWI no hipocampo, o que reforça a hipótese diagnóstica de AGT.
A AGT não costuma repetir mas pode acontecer em 10% aproximadamente das pessoas, sendo o risco maior em portadores de enxaqueca e de depressão e a maioria ocorrerá nos próximos 2 anos.